Pe. Bruno Sechi – Por uma sociedade que transforme

Pe. Bruno Sechi

Em tempos onde os Direitos Humanos são relativizados para legitimar ideologias políticas extremistas e o sofrimento das pessoas é a principal manchete de ontem, hoje e amanhã, a partida de Pe. Bruno Sechi causa ainda maior dor. Conhecido por seus trabalhos sociais na periferia de Belém, Pe. Bruno faleceu na noite desta sexta-feira (29). O sacerdote foi encontrado desacordado em sua residência e socorrido por amigos próximos. O padre ainda foi levado a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu e veio a óbito. Há dias se recuperava da covid-19.

Pe. Bruno Sechi tinha 80 anos e atuou em várias paróquias da Arquidiocese de Belém, primeiro como sacerdote salesiano, depois incardinado nesta Igreja Local. Atualmente era pároco na Paróquia São João Paulo II, no bairro do Curió-Utinga e Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz. Fazer memória da missão deste padre santo e dar a conhecer sua obra e forma de viver a fé é uma necessidade eclesial e pastoral.


HISTÓRIA E OBRA

Nascido no dia 31 de julho de 1939, na Sardenha - Itália, foi ordenado padre em 29 de junho 1968. Ainda jovem, veio para o Brasil como missionário salesiano. Diante da realidade que encontrou, Pe. Bruno reuniu alguns educadores e sensibilizou um grupo de jovens em defesa dos direitos das crianças e adolescentes que trabalhavam na feira do Ver–o–Peso, meninos que ajudavam seus pais vendendo sacolas, salgados e picolés, prestando também pequenos serviços como engraxates e outros, enfrentando o preconceito, a violência policial e os aliciadores que os exploravam.

Os jovens, liderados pelo religioso, decidiram ajudar os pequenos vendedores e criaram um Restaurante do Pequeno Vendedor, que originou a República do Pequeno Vendedor e, depois, o Movimento República de Emaús (1970). Organizados, passaram a debater e a reivindicar os direitos das crianças e adolescentes, resgatando a cidadania com uma proposta concreta de resistência às drogas, à violência, à prostituição, ao abandono e à exclusão.

Nos anos 80, o padre Bruno aplicou-se a liderar a causa da criança através de movimentos nacionais. Ele foi o primeiro coordenador do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, cargo que exerceu de 1985 a 1988, interferiu em favor do menor na Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição de 1988 e contribuiu para a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990, lei que desafiou os poderes da sociedade que submetia as crianças e adolescentes à condição de excluídos.

Foi vencedor do 5º Prêmio USP de Direitos Humanos (2004), na categoria Individual. Sob a responsabilidade da Comissão de Direitos Humanos da USP, o prêmio é concedido anualmente a pessoas e instituições que contribuem para a promoção da cidadania, da paz e da solidariedade.

Hoje o Movimento República de Emaús – que completará 50 anos no próximo dia 12 de outubro – é dirigidos pelos primeiros jovens resgatados da pobreza e atende mais de 800 crianças e adolescentes, com suas famílias de baixa renda. Com o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus em Belém, a entidade realiza a grande arrecadação de móveis e equipamentos usados, onde nas oficinas da República, são recuperados para gerar recursos para as ações desenvolvidas.

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SINAL E TESTEMUNHO – Dom Antônio de Assis

Registro brevemente aqui o meu testemunho e admiração pela história do finado Pe. Bruno Sechi. Italiano de nascimento, mas caboclo paraense de coração! Uma vida marcada pela inquietude do Reino de Deus expressada como luta permanente pela promoção da dignidade humana. 

Trabalhamos juntos, nos finais de semanas, na República do Pequeno Vendedor nos anos ’80 quando, eu era ainda aspirante Salesiano. Duas décadas depois voltamos a nos encontrar na causa da promoção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, somando com os mesmos ideais no Forum DCA e no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O Pe. Bruno Sechi foi um sinal e testemunho eloquente de simplicidade e sensibilidade humana! Deixou-nos um inestimável legado: o exemplo de “Igreja pés no chão”, a luta pela formação de lideranças populares, a viva convicção da dimensão social da fé, a inquietude missionária, a manutenção do ardor pastoral e da mentalidade aberta até o seu último suspiro! Que Deus lhe conceda o prêmio reservado para os BONS OPERÁRIOS do seu Reino! Descanse em Paz!

Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB

Bispo Auxiliar de Belém

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"O dia que deixarmos de sonhar, nós morreremos.
Mas eu quero morrer sonhando" (Pe. Bruno Sechi)

Pe. Bruno era expressão de uma fé integral, que parte da relação com o Cristo encarnado na história e nas culturas. Perdemos um santo ao pé da porta, conhecedor e vivente da dimensão social da fé, mas seu exemplo vive hoje e amanhã, para mostrar que “a fé sem obras, é morta” (cf. Tg 2,17).


Fonte das informações: Jornais Locais e testemunhos de amigos.

Imagens: Internet.


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