Paixão da Pandemia e Páscoa da Solidariedade
Covas abertas no Cemitério da Vila Formosa, Zona Leste da capital paulista - Fonte: https://www.terra.com.br/ |
“Alegrai-vos!... Não tenhais medo. Ide anunciar a meus irmãos que se
dirijam para a Galileia. Lá eles me verão” (Mt 28,9-10)
Os dias que vivemos nos mostram a
narrativa da paixão de Jesus na carne dos que nos são próximos. Não apenas lemos
e ouvimos o seu flagelo nas páginas dos evangelhos escritos, mas o contemplamos
no luto e no temor desta paixão da pandemia. Como podemos, portanto, acolher em
meio ao caos a Boa Notícia da Ressurreição? Como podemos celebrar a Páscoa da
sepultura vazia se ainda experimentamos a cruz?
O fato é que o anúncio da
Ressurreição está sempre presente. Nós celebramos o mistério que vivemos e o
celebramos para poder viver. A Páscoa está presente em toda a sua potência em
nossa realidade e em nossa vida chagada. As feridas não impedem e nem negam a
vida nova. Ouçamos como que pela primeira vez as palavras do Senhor Ressuscitado:
“Alegrai-vos!... Não tenhais medo. Ide
anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”
(Mt 28,9-10).
É
preciso voltar à Galileia para ver Jesus que não está morto, mas vive! É
preciso descer o olhar do centro do poder e dos grandes e mirá-lo na periferia e
nos pequenos. Lá está o Senhor! Não na mesa onde se discute sobre gente que
vira número, nem nas migalhas dadas pelos ídolos populares. Mas lá, longe dos
mais citados no twitter, onde ninguém vê, nos simples que servem com amor, está
o Senhor.
São
médicos, enfermeiros, zeladores, cuidadores, religiosos, jovens, todos
anônimos, todos humanos, escondidos dos stories e das câmeras de TV. Estão lá e
estão aqui, servindo a vida e nela servindo ao Reino, mesmo sem saber, como
grão de mostarda, fermento na massa, sal na panela, nuvem de testemunhas. “Olhai para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias: não são aqueles que têm
fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros.”
(Papa Francisco, Homilia no Domingo de Ramos 2020). Olhemos para eles e
deixemos que renasça a esperança! Contemplemos sua oferta escondida e
acreditemos uma vez mais na humanidade. É na
vida doada por amor – com todo o sofrimento que esta escolha provoca – que a
Páscoa é de novo proclamada!
“Quantas pessoas dia a dia
exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico,
mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram
às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e
atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a
oração!” (Papa Francisco, bênção Urbi et
Orbi). É Páscoa quando descobrimos a sublime verdade de que cada um conta,
cada um vale, cada um é necessário e que ninguém se salva sozinho.
Sim, voltemos à Galileia, sem medo, para ver o Senhor! Ele é
o divino que se fez humano que sofre e que morre, mas vive e é vivo, pois é verdadeiramente
humano e, assim, divino. Quem não crê, desta forma o encontra sem dizer seu
nome. Nós que cremos, podemos dizer: “É o meu Senhor! É Jesus! Ele vive!”.
Contemplando a cruz de Cristo na cruz de seus irmãos mais pequeninos (cf.
Mt 25, 40) que padecem pelo coronavírus, renovemos a esperança e a firme
certeza de que a morte não tem a última palavra. Cantemos vivos nossa esperança que “enche de luz e paz os corações” (Precônio Pascal), passando da paixão da pandemia à páscoa da solidariedade e sendo,
assim, sinal e presença do Ressuscitado que nos faz verdadeiramente humanos.
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